MEDIDINHA CERTA
NÚCLEO DE CRIAÇÃO :: NEWSLETTER 2
SEGUNDO CICLO :: 2010
UMA OUTRA VOLTA
ALTERNÂNCIAS
NÚCLEO DE CRIAÇÃO :: NEWSLETTER 1
Um primeiro ciclo. Uma apresentação. A inauguração do Núcleo foi organizada em torno de projetos pessoais de cada um dos integrantes, para que nós nos conhecêssemos. Vimos a construção de um curta de animação, o trabalho apaixonado de Frederico Carvalho Junqueira, que mostra como executou o argumento do filme, a roteirização, a modelagem dos personagens, o movimento, a composição do áudio, a interpretação de voz, e edição. Em seguida, Claudio Bichucher ensina a especialidade da produção musical e de áudio. Somos introduzidos à lógica das mesas de som, softwares de gravação e efeitos especiais, aos métodos de afinação e preparação da sonoplastia de espaços (até os estádios de futebol). Doda Ferrari, em nosso terceiro encontro, expõe o raciocínio de construção de uma campanha publicitária, discutindo um caso em especial, sua crítica, e sinalizando algumas possibilidades de análise cultural e humanística da campanha. Vanessa Tiemi Doi abre o ano de 2010 com um estudo da dúvida e da angústia no processo criativo, observando referências da psicanálise de Jacques Lacan. Fábio Garcia expõe a arquitetura de um negócio de marketing digital, seu trabalho de mais de um ano no estabelecimento dos contatos e contratos, na escolha das formas de divulgação de um empreendimento abrangente para as mídias digitais. No encontro seguinte, Martha Nascimento mostra a lógica de seu trabalho em estamparia, defendendo um processo criativo aberto a estímulos em qualquer campo cultural, questionando o senso de tendências ou da leitura de comportamentos. Concluímos o ciclo com a apresentação do projeto social Lar do Caminho, por Jordana Simonaggio. Responsável pelo entretenimento cultural de crianças entre seis e sete anos, conduzindo-os em passeios pela cidade e convocando novos colaboradores, Jordana nos faz pensar a ligação que existe entre o trabalho criativo e as ações sociais contemporâneas.
ALTERNÂNCIAS
2. Um filme. Nossa primeira sessão foi com o formidável documentário de Sydney Pollack, Esboços de Frank Gehry. O trabalho exuberante do canadense Gehry é exposto em meio a uma conversa franca sua com o amigo Pollack, em que discutem inseguranças, ímpetos, decisões de vida deste arquiteto considerado por muitos o mais marcante traço de nosso tempo, autor do prédio de artes do MIT, em Boston, do Museu Guggenheim de Bilbao, do Vitra Design Museum alemão. Vemos o dia-a-dia do escritório de Gehry, e descobrimos seu trabalho completamente suportado pela prototipagem em maquete (será tema de palestra no próximo ciclo)
4. Um estudo de psicanálise e criação. Neste ciclo, o tema foi Fantasia cria realidade, em palestra de Andréa Naccache. Nela, estudamos um pouco a mudança de valores sobre o conceito de fantasia ao longo do século XX. Se ela já foi muito vista como uma ruptura com a realidade, esta perspectiva ainda assombra pensamentos conservadores – a fantasia como vizinha da loucura, que seqüestra a pessoa da vida conseqüente e responsável. É um ponto de vista que fundou alguma tradição psiquiátrica e a crítica aos recursos de realidade virtual, até hoje – como, por exemplo, a condenação de relacionamentos estabelecidos em ambientes lúdicos como o Second Life.
Passamos pelo pensamento oposto, a defesa da fantasia, em obras como “A vida é sonho”, teatro de Calderón de la Barca, de 1635, e textos de Coleridge, no século XIX. Olhamos por um instante grandes viradas na concepção científica da realidade, como a revolução copernicana (que nos ensinou que a Terra gira em torno do Sol, e não o suposto inverso) e a visão da ciência como falseável, por Karl Popper. Vimos um pouco da construção da realidade moderna, com Descartes, Bacon e Wittgenstein. Examinamos o texto de Freud “A perda da realidade na neurose e na psicose”, de 1924, e indicamos por qual caminho a psicanálise freudiana nos permite perceber qualquer construção de realidade como imbuída de fantasia, porém com uma sinalização importante: faremos nossa realidade sobre as fantasias de medos e sintomas neuróticos, ou saberemos alçar nossos desejos ao mundo? Essa questão foi posta a partir de leituras sobre como a neurose obsessiva pode propor um mundo todo feito de muros e barreiras. Encerramos observando importantes trabalhos de transformação da realidade contemporânea através do design, pelo livro Massive Change, de Bruce Mau.
O COLETIVO É SUJEITO DO INDIVIDUAL
Talvez fosse uma surpresa encontrarmos um trabalho social no fechamento de um ciclo de projetos de criação. Apenas talvez. Constatamos, ao contrário, ouvindo Jordana Simonaggio, que se a última década despertou formas de criação sensorial – enfatizando o valor dos processos criativos e de seus frutos, na gastronomia, na moda, no design, na arquitetura, nas artes diversas que suportam um mercado de entretenimento e cultura em intenso crescimento – precisamente ao mesmo tempo, alguns projetos sociais passaram a despontar sem a tonalidade tradicional da caridade. Assumiram a forma de participação e experiência. Entre os jovens, o opção pelo trabalho criativo aparece da mesma maneira que a escolha do trabalho voluntário ou do empenho profissional em projetos sociais.
Em nossa última reunião do ciclo, dedicamo-nos por um momento a procurar fatores que aproximem a criação singular – esta com que trabalhamos no Núcleo – ao projeto social. A questão posta ao grupo foi: em quê os projetos sociais participativos atraem da mesma maneira que a criação? Eis as primeiras conclusões:
O PRÓXIMO CICLO
Direção :: Andréa Naccache
Direção de Fluxo e Engajamento :: Vanessa Tiemi Doi
ARTIGOS EM PDF
Estudo da vida criativa
Em 2006, este trabalho nasceu baseado na observação clínica e em uma pesquisa com o chef Alex Atala, os designers Fernando e Humberto Campana e o designer de moda Jum Nakao. A conversa com eles tornou-se um livro (em fase final de edição) e uma proposta clínica introduzida à comunidade de psicologia e psicanálise em 2008 e difundida em palestras diversas, entre 2008 e 2009. Em virtude desta pesquisa, veio o convite de empresas para trabalhos associados à criação, como a conceitualização do evento “O extraordinário cotidiano”, para o grupo Whirlpool – KitchenAid; a curadoria do segmento PENSAR DESIGN da Semana de Design de São Paulo – VIVER DESIGN EM SÃO PAULO, em 2008, junto à Prefeitura da cidade, e uma aplicação de princípios psicanalíticos ao design de interiores, iniciada junto à ABD – Associação Brasileira de Designers de Interiores.
Em 2009, o estudo levou a uma visita ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), para cursos de aprimoramento em processo criativo nas áreas de arquitetura empresarial e design industrial. Foi também formado o NÚCLEO DE CRIAÇÃO - um grupo de estudos de processo criativo com orientação psicanalítica, que está em atividade continuada, desde então.